Procedimentos fundamentais para a criação de um bom roteiro de videoaula

Para se criar um bom roteiro de videoaula, que cumpra os objetivos de formação de pessoas com eficiência, dinamismo e qualidade, a instituição e os/as profissionais responsáveis devem dedicar especial atenção aos seguintes aspectos:


Conhecer bem os objetivos do curso


O ideal é que a pessoa responsável pela escrita do roteiro tenha acesso ao plano de ensino e ao plano de aula daquela aula específica. E que ela tenha tempo para estudar esse material. (No caso de vídeos corporativos ou comerciais, isso equivaleria a um estudo do chamado briefing). Caso não haja esse material, seria importante que o(a) roteirista se reunisse com a pessoa responsável academicamente pelo curso, para poder tirar todas as dúvidas e conhecer bem quais são os objetivos.

A estrutura do vídeo, que é basicamente o que o roteiro arquiteta, deve procurar criar as melhores condições para que as pessoas que assistirem desenvolvam as capacidades apontadas nos objetivos pedagógicos. Nem sempre a simples transmissão de informações é o melhor caminho. (Assim como a aula tradicional expositiva nem sempre é o melhor formato em um curso presencial).

Por exemplo: Se o objetivo é que o curso desenvolva uma capacidade de autonomia na reflexão acerca de problemas de determinada área, não devemos entregar de antemão as conclusões do(a) professor(a) ou de teóricos reconhecidos. O melhor, nesse caso, seria ter um vídeo mais curto, que apresentasse o tema ou problema, sendo seguido de atividades que estimulassem a reflexão e, por fim, tivéssemos mais um vídeo, explanando sobre as visões mais reconhecidas na literatura e na prática da área. Assim, as pessoas poderiam conhecer a situação, refletir sobre soluções, depois comparar suas reflexões com o pensamento de nomes reconhecidos. Assim, a compreensão tende a ser mais profunda e mais duradoura, porque está ligada a uma busca de solução, não a uma recepção passiva de informações.



Definir o tom e o estilo


Para além dos objetivos, é importante levar em conta qual é o perfil das pessoas a quem o vídeo se destina (público-alvo) e qual é o estilo que se pretende implantar. Isso deve ser coerente com a identidade e a comunicação da instituição como um todo. Uma faculdade tradicional e conservadora pode oferecer cursos que apresentem uma linha de comunicação menos tradicional, por que não? Mas essa deve ser uma escolha consciente, visando um fim determinado, e não acontecer simplesmente porque a equipe de produção acha “uma chatice aquela linguagem careta”. O vídeo é para determinado tipo de pessoas, não para quem o produz. É isso que devemos ter em mente.



Escolher o conteúdo mais adequado para ser usado em vídeo


Pode ser que o conteúdo a ser transformado em vídeo seja escolhido pela coordenação. Pode ser que quem selecione seja o(a) docente responsável pelo curso, o que é melhor, porque é a pessoa que melhor domina o material. No entanto, normalmente a pessoa responsável pelo curso não tem tanto conhecimento da linguagem de vídeo, então acaba selecionando muito conteúdo ou partes que não funcionam tão bem no vídeo. Quando isso acontece, o trabalho sobra para o(a) roteirista. Quando for o caso, é importante promover um encontro ou uma comunicação facilitada entre professor(a) e roteirista, para que os objetivos pedagógicos e as especificidades da linguagem de vídeo sejam equilibrados.



Escrever de modo fluido, bom para falar, não para ler


Tudo o que vai ser dito por professor(a) ou apresentador(a) deve ser escrito com o nítido entendimento de que se trata de uma fala, não de um texto para ser lido. Por isso, o roteiro de vídeo é uma espécie de inversão da lógica real. A escrita surgiu como o registro de uma produção oral, que antecede o texto. Porém, no caso do vídeo a escrita vem antes da fala. Então, precisa ser um texto fluido, para funcionar como comunicação oral, não como literatura.

Para além disso, não custa lembrar que a pessoa que assiste ao vídeo não pode interromper a aula para tirar uma dúvida ou pedir para que a informação seja repetida. Na leitura, podemos voltar e reler a frase quantas vezes forem necessárias. No vídeo, até é possível voltar, mas não é algo muito funcional, nem agradável de se fazer. Não há um estudo sobre isso, mas acho pouco provável que as pessoas assistam por muito tempo vídeos que exijam de nós esse tipo de procedimento para uma compreensão do conteúdo.

Considerando isso, a pessoa responsável pelo roteiro deve ler em voz alta, para verificar se o texto está fluido e de fácil compreensão, além de procurar utilizar períodos curtos, que facilitem a respiração de quem vai ler (falar!) na gravação da videoaula.

Também é importante que o(a) docente responsável entenda que a videoaula pode e deve ter uma estrutura textual de qualidade, mas não deve se utilizar de todos os recursos que um texto para ser lido oferece para sua autora ou seu autor. Há estruturas gramaticais que não funcionam para escuta, apesar de serem muito agradáveis e passarem credibilidade à leitura.



Pensar no ritmo


O ritmo da fala e do vídeo é ditado finalmente durante a gravação e a edição, mas o texto do roteiro é fundamental para isso. A fluidez, mencionada acima, já é importante para ajudar a imprimir uma dinâmica para a videoaula, deixando-a menos (ou nada, de preferência) cansativa. Existem, entretanto, outros aspectos relevantes relacionados ao ritmo.

Há trechos do conteúdo que pedem um andamento mais lento, porque a pessoa que assiste precisa de um tempo para assimilar um raciocínio ou um conceito. Nesse caso, por exemplo, a construção de frases isoladas é fundamental. Se o roteiro traz uma frase que menciona um conceito importante e tem apenas uma vírgula para entrar em outro tema, fica difícil para uma apresentadora, por exemplo, estabelecer um novo ritmo. Nesse caso, durante a gravação a equipe precisa trabalhar como se houvesse um ponto final e não uma vírgula. Isso nem sempre resulta bem.



Prever todas as entradas de textos, imagens e/ou gráficos


No roteiro de uma videoaula (ou de qualquer outro tipo de vídeo), precisamos prever tudo que vai acontecer no produto audiovisual, ao final da edição: imagens, animação gráfica, gravação em estúdio ou externa, locução, letreiros (ou letterings, como se utiliza frequentemente no mercado publicitário), sons etc., desde a abertura até o encerramento.


A elaboração disso tudo deve seguir o que foi descrito acima, considerando sobretudo: o perfil do público-alvo, a identidade da organização que oferece o curso ou treinamento, os objetivos do projeto e os planos de ensino e de aula. Em termos práticos, o ideal é que essa criação seja feita a partir de um diálogo entre roteirista,  diretor(a) e, se possível,  editor(a) de vídeo. Assim, todos podem pesquisar referências, discutir e chegar juntos a uma concepção, que guiará todo o processo, desde o roteiro, passando pelas gravações, terminando na ilha de edição.


É fundamental que se decida já nas reuniões que antecedem a criação do roteiro se e como serão utilizados os letreiros e computação gráfica, para que a gravação seja feita de acordo com as necessidades.


Por exemplo:

Imagine uma aula que utilize um apresentador. Na hora da gravação, a diretora do vídeo resolve usar um enquadramento mais fechado, em um momento importante da aula, em que se fala sobre uma parte do conteúdo que pede uma atenção especial de quem assiste. Como não há nenhum elemento gráfico previsto, a diretora de cena pode optar por esse enquadramento fechado, para que os olhos do apresentador fiquem maiores na tela (dando a sensação de proximidade), ajudando a reforçar a importância do tema. No entanto, depois da gravação, outras pessoas indiretamente envolvidas dizem que seria bom reforçar a fala com um letreiro. É muito provável que o letreiro não caiba na tela. Se o letreiro estivesse previsto, estaria no roteiro e a diretora teria gravado com um enquadramento que deixasse o espaço necessário para a entrada do letreiro, junto com a imagem do apresentador. Diante disso, não teríamos a melhor solução. Seria necessário escolher entre:


- Abrir mão da ideia do letreiro, lamentando porque isso poderia ajudar didaticamente;

- Pôr o letreiro sem a imagem do apresentador, o que também teria menos força;

- Regravar com um enquadramento que deixasse espaço para o letreiro.


A última opção levaria ao melhor resultado, mas aumentaria o prazo e o custo de produção do projeto. Até é possível gravar tudo em plano geral e refazer os enquadramentos na ilha de edição. Mas, para isso, é necessário gravar com uma definição bem mais alta que a necessária para o vídeo final. (O que tende a elevar tempo e custos de produção). E, mesmo assim, resolveria apenas o caso acima. Não daria para criar posteriormente, por exemplo, uma interação entre uma apresentadora e um efeito gráfico. Teríamos que gravar o movimento dela, prevendo de que modo o elemento gráfico seria inserido, depois, na edição. Ou seja: a interação deveria estar prevista no roteiro ou, ao menos, nas reuniões que fossem definir a linguagem do vídeo, antes das gravações serem feitas.


Assim, para vídeos muito simples, diante de uma eventual falta de recursos, pode-se escrever roteiros também simples, sem correr tantos riscos. Porém, a presença de profissionais com experiência nas áreas de vídeo e EAD sempre ajudará a trazer melhores resultados, não apenas tecnicamente, mas para que se atinjam os objetivos pedagógicos e comerciais do projeto.


Um(a) roteirista profissional saberá também escrever utilizando o formato de roteiro de vídeo que for da preferência da organização responsável pelo projeto. Dê uma atenção a isso, para que pessoas que não são da área possam compreender da melhor maneira possível o que está descrito no roteiro. Afinal, ao ler o roteiro a pessoa precisa conseguir visualizar todas aquelas informações juntas, em linguagem de vídeo, e fazer as considerações para que ele seja completamente ajustado antes das gravações. Alterar depois de gravado normalmente leva a uma regravação, atrasando e encarecendo o processo.



Prof. Dr. Candeias


© Candeias

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