Cuidados necessários na elaboração de vídeos para cursos de EaD ou treinamento de funcionários

Quando formos elaborar um projeto de vídeos para ensino a distância ou de treinamento, devemos atentar especialmente aos seguintes passos:

Criar um projeto institucional e pedagógico

Por mais óbvio que pareça, é importante frisar sempre a necessidade de um projeto institucional e, principalmente, pedagógico. O institucional já existirá, provavelmente, afinal a faculdade ou empresa já foi fundada. Então, antes de decidir que vai oferecer cursos a distância ou mesmo um programa de treinamento, é imprescindível a criação de um projeto pedagógico, para fundamentar o trabalho posterior. Se a intenção for oferecer apenas um curso, basta criar um plano de ensino ajustado ao perfil da instituição e guiado pelos objetivos pedagógicos do curso. Se forem diversos cursos, é bom elaborar um projeto para definir o perfil da plataforma digital da instituição.

Definir quais são os objetivos

Pelos motivos mencionados acima, antes de sair produzindo vídeos, é preciso definir com clareza quais são os objetivos que levaram à compreensão de que o melhor caminho seria ter vídeos, sejam no formato de videoaula ou em qualquer outro formato. No caso de vídeos para um curso, é preciso compreender bem o plano de ensino e quais as capacidades que se pretende desenvolver. (Leia mais sobre como definir os objetivos de um curso). A partir disso é que podemos decidir qual o melhor formato e a linguagem mais adequada para os vídeos, considerando o público ao qual se destina (público-alvo).

Público-alvo: Para quem é?

Qualquer vídeo deve ser feito direcionado para quem vai assisti-lo, visando alcançar os objetivos que levaram à sua criação e produção. Para ter apelo com pessoas mais formais, devemos utilizar uma linguagem adequada a esse perfil, tanto no que é dito quanto no tom da fala de apresentador(a) ou professor(a), na cenografia, na animação gráfica e assim por diante.
Para um público “mais popular”, devemos considerar uma linguagem que se comunique de outra maneira, com menos formalidade e, em muitas situações, utilizando formatos de exposição de conteúdo diferentes de uma videoaula ou de uma narrativa muito verborrágica. Digo isso apenas por cima. Não é possível pensar em regras gerais sem entrar em um estereótipo e/ou estabelecer fórmulas que não vão funcionar para todos os casos. É preciso procurar compreender qual o perfil do público e, a partir disso, estabelecer a linguagem.

Em que circunstâncias será assistido

O ambiente em que a pessoa se encontra e o dispositivo pelo qual ela assiste são determinantes para a estrutura de qualquer vídeo. Se a intenção é que as pessoas assistam aos vídeos pelo celular e até os compartilhem, é bom evitar vídeos longos. Há vídeos de cerca de 5 minutos que circulam bem via aplicativos como Whatsapp, mas, de modo geral, é melhor pensar em formatos mais curtos e bem diretos. Assim, o risco de desligarem o vídeo antes do fim é bem menor.

É evidente que tudo depende de cada caso. Se a pessoa tiver que fazer uma prova presencial, cujo conteúdo é transmitido por vídeos de 10 minutos, enviados via celular, ela provavelmente vai assistir. No entanto, o fato dela assistir não significa que os vídeos de 10 minutos sejam os mais adequados e eficientes para os objetivos do projeto.

Existem diversas nuances que devem ser consideradas. Se o vídeo for exibido em um lugar público, com muito ruído, não se deve considerar o uso de uma narração em off, por exemplo, porque as pessoas não conseguirão escutar. Nesse caso, o melhor seria informar tudo visualmente, com imagens e, quando necessário, com letreiros.

Os letreiros também devem ser pensados de acordo com o dispositivo onde o vídeo será assistido. Um vídeo feito para uma tela grande pode ter letreiros menores do que aquele que é feito para ser assistido em um smartphone. No caso do último, os letreiros precisam ser maiores, para que a pessoa consiga ler bem. Muitas vezes, serão utilizadas diferentes plataformas de exibição. Nesse caso, o melhor é fazer uma versão do vídeo para cada uma delas. É um pouco mais custoso, mas o resultado é bem melhor.

Referências

É sempre bom pesquisar diversos vídeos, para eleger alguns como referência para o trabalho. Eles não serão copiados, eles apenas tornarão a conversa mais concreta, o que ajuda muito na participação de pessoas que não têm muita experiência com vídeos.
Se possível, a instituição ou empresa que demandar o projeto deve procurar indicar algumas referências, para deixar mais nítido quais são os seus anseios para o projeto. Caso não haja, é bom que a produção apresente algumas referências antes de gravar, apontando o que há ali de adequado para o projeto, como a postura de uma professora diante da câmera, por exemplo, ou o modo como os letreiros são aproveitados, e assim por diante.

Todos devem tomar cuidado para não criar expectativas inalcançáveis a partir das referências. Normalmente as referências são vídeos ou filmes publicitários, com uma estrutura de produção de custos bem mais altos que os de um curso a distância ou de treinamento. Assim, não dá pra esperar o mesmo resultado. Utilizar um formato semelhante é diferente de contar com o mesmo suporte de equipe, cenografia, iluminação, direção de fotografia, trilha sonora original, locações de custo alto, tratamento de imagem e outros tipos de serviço de pós-produção profissional.

Procurar definir quem vai aprovar os vídeos

Um problema recorrente na produção de vídeos é a reprovação de muita coisa na primeira versão. É normal haver ajustes a serem feitos depois do primeiro corte, porque nem tudo é bem visualizado de antemão por todas as pessoas envolvidas no projeto. Quando já temos um vídeo e não apenas um roteiro e referências, é possível identificar alguns detalhes que podem ser melhorados, e que não eram bem vislumbrados nas etapas anteriores.

No entanto, muitas vezes as pessoas envolvidas não compreendem muito bem a linguagem de vídeo. Daí a importância do roteiro e do alinhamento de escolhas de elenco, figurino, arte gráfica etc. É bom explicar bem como as coisas que acontecerão no vídeo. Sabendo que há pessoas com pouca experiência, pode-se pensar até em uma reunião com leitura em voz alta, explicando cada detalhe do roteiro. É uma medida que pode poupar algum retrabalho posterior.

Essas são situação que permitem ações que minimizem os enganos e refações. Em algumas organizações, entretanto, acontece algo muito improdutivo, que muitas vezes não conseguimos contornar: a pessoa responsável pela aprovação não participa de reuniões ou da criação do chamado briefing. Esse é um passo que pode levar facilmente a uma refação. As escolhas dos caminhos sempre têm um grau de subjetividade. Então, pode ter uma equipe de cinco pessoas conduzindo o processo até chegar a um resultado muito satisfatório para todos. No entanto, quando se apresenta o vídeo para um diretor geral ou CEO, ele reprova, afirmando que não era nada daquilo. Sinceramente, é possível compreender que a agenda de certas pessoas seja muito cheia, entretando, o erro aqui está na sua ausência durante o processo.

Indo direto ao ponto: tente determinar logo de início quem será a pessoa responsável pela aprovação e procure tê-la presente em todos os fechamentos de processos. Por exemplo, na reunião de briefing, na aprovação do roteiro, na apresentação de figurino, cenografia etc. Se isso não for possível, é torcer para ter uma semelhança de pensamento entre as pessoas envolvidas e a responsável pela aprovação. O tempo de convivência pode ajudar nisso, porque conhecemos melhor as preferências da pessoa que decide, mas é sempre um caminho arriscado, que pode levar a bastante retrabalho, dor de cabeça e prejuízo para todos os envolvidos.

Elaborar um conceito e segui-lo

Como visto acima, depois de compreendidos os objetivos, a equipe de criação e a instituição devem chegar juntos a um conceito. Esse conceito deve guiar toda a produção. Isso não significa que novas ideias serão sempre descartadas, mas que deve-se tomar o cuidado de analisar se tais ideias estão dentro do conceito, que, por sua vez, visa aos objetivos definidos no início de tudo. O conceito garante uma coerência e é dele que devem partir todos os critérios de análise.

Ter diretor(a) em todas as etapas importantes e na apresentação

É importante que a diretora ou o diretor do vídeo esteja presente nos momentos de definição, tendo acesso a todas as pessoas que lhe parecerem necessárias para a criação dos vídeos. Há diretores(as) que querem participar desde as reuniões de briefing, para criação do roteiro, tendo oportunidade de perguntar coisas diretamente para a instituição que demanda o projeto. Em outros casos, sua participação pode começar em reuniões com o(a) roteirista.

Seja como for, é importante sua participação em tudo quanto for possível, inclusive no dia da apresentação dos vídeos para quem os demandou. Só a diretora ou diretor saberá explicar suas escolhas, caso isso seja questionado, e demonstrar o que aquilo tem a ver com o conceito que guia o projeto. Não para se defender ou se recusar a reconhecer erros, mas para explicar e analisar com serenidade o que deve ser alterado. Caso contrário, a conversa pode ficar muito apoiada no gosto pessoal, que é, obviamente, sempre subjetivo. E creio que já ficou claro que quando as decisões tornam-se puramente subjetivas os riscos de desentendimentos, problemas e prejuízos são imensamente maiores.

Prof. Dr. Candeias

© Candeias

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