Formatos de roteiro de vídeo
Existem basicamente dois formatos de roteiro utilizados nas produções de vídeo: o roteiro cinematográfico, estruturado em cenas, e o roteiro jornalístico, dividido em colunas de áudio e vídeo.
Existem outros tipos de roteiro na produção cinematográfica, como roteiro técnico, por exemplo. Assim como há diferentes nomes, conforme as adaptações vão sendo feitas por cada segmento. Em televisão, por exemplo, é comum chamar de roteiro o cronograma semanal de gravação de uma novela, enquanto o texto com as cenas é chamado de script. Mas o que nos interessa aqui é abordar os dois formatos principais, mencionados acima, que são os utilizados em videoaulas, vídeos corporativos, filmes publicitários etc. Se você quer criar videoaulas ou cursos EAD de qualidade, ou até produzir vídeos de outra natureza, é importante conhecer os formatos, para escolher o melhor caminho a adotar. Então, vamos aos formatos:
Roteiro cinematográfico
O que estou chamando de roteiro cinematográfico é o roteiro que se utiliza em uma das etapas da produção cinematográfica e, no Brasil pelo menos, frequentemente em filmes publicitários.
Este roteiro possui um cabeçalho, indicando: a) o número da cena; b) se ela é interna (em uma casa, por exemplo, ou estúdio) ou externa (ao ar livre); c) onde se passa; d) qual período do dia em que se passa (dia, noite...). Vejamos um exemplo de cabeçalho de cena:
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1. CASA DE MARCELO/SALA DE ESTAR. DIA
O cabeçalho acima indica que a cena é a primeira do roteiro, passa-se dentro da sala de estar da casa de Marcelo, no período diurno.
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A mudança de cena ocorre quando há mudança no tempo ou no espaço. Como isso funciona? Digamos que a cena 1 fosse assim:
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1. CASA DE MARCELO/SALA DE ESTAR. DIA
Sílvia tecla no celular. Marcelo levanta-se subitamente do sofá.
MARCELO – Sílvia, você tem que ir!
SÍLVIA – Mas por quê?
MARCELO – O Pedro deve estar chegando.
SÍLVIA – Nossa!
Ela pega a bolsa, dá um beijo rápido em Marcelo e sai.
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Há sempre muitas opções possíveis, que o roteirista pode escolher, de acordo com toda a estrutura que quiser dar ao roteiro, mas, seguindo uma sequência padrão, podemos dizer que o ideal é que a cena seguinte a esta mostre se Sílvia conseguirá sair a tempo, sem ser vista por Pedro. Nesse caso, mesmo que não tenha salto no tempo, temos que ver a casa pelo lado de fora. Portanto, é necessário ter uma mudança de cena. O cabeçalho poderia ser, por exemplo:
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2. CASA DE MARCELO. DIA
Vemos o carro de Pedro aproximando-se da entrada da casa de Marcelo, quando Sílvia sai com passos apressados.
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Como vimos, a diferença entre as duas cenas é que a primeira mostra a parte interna da casa de Marcelo, enquanto a segunda mostra a parte externa. Então, apesar de vermos a mesma situação (Sílvia saindo da casa de Marcelo), é necessário ter mudança de cena, visto que houve mudança de espaço (de cenário).
Nos dois exemplos de cabeçalho, escrevi abaixo uma rubrica, que nada mais é do que a descrição de ações. No caso de vídeos que não sejam de ficção que se utilizam desse formato de roteiro, usa-se o equivalente à rubrica para descrever trilha e efeitos sonoros, mas, sobretudo, toda a parte visual da obra. Por exemplo:
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1. ESTÚDIO
Estúdio com fundo branco. Efeito revela suavemente a imagem da Acrópole grega ao fundo. Professora Sandra no estúdio.
Quando a professora entra, a trilha sonora da vinheta de abertura cai e permanece ao fundo. (Obs do autor deste blog: Em vez de dizer “ao fundo”, é comum o uso do termo “BG”, abreviatura de background).
PROF. SANDRA
Olá, sejam muito bem-vindos ao segundo módulo do curso “Grécia Antiga: Principais Fundamentos”, oferecido pela Fundação xxxxxxxxxx. Nossos olhares se voltarão, a partir de agora, para a famosa Poética de Aristóteles.
Letreiro:
Poética – Aristóteles
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Nesse caso de vídeo não ficcional em formato de roteiro cinematográfico, as mudanças de cena são feitas por blocos de tema ou por mudança de “cenário” (ou de recursos visuais). Pode haver, por exemplo, uma cena inteira em que aparece apenas animação gráfica e a voz da professora fica em off (Voz off é quando a professora, por exemplo, não aparece falando, mas ouvimos sua voz, acompanhada de outras imagens, que, normalmente ilustram a narração). Se houver um trecho com a professora falando no estúdio, seguido de um trecho com voz off, o melhor é fazer uma mudança de cena. Essa lógica (tal como as mudanças de tempo e cenário, nos roteiros ficcionais), facilita na organização da produção. Assim, na hora de gravar, a diretora ou o diretor enxerga mais facilmente que até determinado ponto deve ser gravado considerando que a imagem da professora vai aparecer e que, a partir da outra cena, valerá apenas sua voz.
No caso da voz off, por exemplo, ela pode precisar falar mais devagar algumas coisas, considerando que vai haver um gráfico sendo montado enquanto ela fala. Além disso, ao deixar a parte que precisará de animação gráfica separada, o(a) roteirista ajuda também na organização da edição de vídeo.
Nesse vídeos, também entram, às vezes, clipes. Por exemplo:
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1. Clipe de imagens/ arte gráfica
Clipe com imagens de movimento na cidade. Trilha sonora impactante. Vemos pessoas atravessando a rua, carros passando em uma grande avenida, motos costurando entre os carros. Pouco depois, entram os letreiros:
O tempo nos centros urbanos
Como administrá-lo?
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A base do formato do roteiro cinematográfico é essa. É claro que todos os profissionais e empresas fazem adaptações, para adequar às suas necessidades e criar um padrão que funcione bem para todas as pessoas envolvidas na produção.
No caso de obras de ficção, esse é, indiscutivelmente, o melhor formato. A vantagem de usá-lo para para videoaulas ou outros tipos de vídeo que não sejam obras de ficção, na minha opinião, é que ele tende a oferecer uma leitura mais fluida e até mais agradável, principalmente para aquelas pessoas que não estão acostumadas a trabalhar com vídeo e ler roteiros. E, visualmente, ele costuma ficar melhor, mais agradável, caso isso seja uma preocupação.
Por outro lado, o roteiro jornalístico é mais preciso, porque conseguimos ver os elementos visuais e sonoros lado a lado. No cinematográfico, temos que supor o momento em que a ação acontece ou descrever em detalhes na rubrica, por exemplo:
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Quando o apresentador diz “vamos conhecer as principais cidades envolvidas no projeto”, aparecem os letreiros:
Berlim, Nova York, São Paulo, Viena.
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E por que isso é diferente no caso do roteiro jornalístico?
Roteiro jornalístico
Chamo o roteiro de colunas de jornalístico porque ele é bastante utilizado em programas jornalísticos, como telejornais ou programas com apresentador(a). Esse roteiro mostra uma coluna referente ao áudio (normalmente no lado direito) e uma coluna referente ao vídeo (normalmente do lado esquerdo da página do roteiro).
Na coluna de vídeo descreve-se tudo o que acontecerá visualmente na obra audiovisual: cenário, movimento de pessoas ou de letreiros e arte gráfica (como entrada de um título ou de uma tarja com nome e cargo de uma pessoa entrevistada, bem como a formação de um logo ou a entrada de ícones, e assim por diante).
Na coluna de áudio, por sua vez, aparece a descrição de tudo o que se refere ao áudio, como entrada de trilha sonora e falas de pessoas (incluindo narração off).
Para obras ficcionais eu não recomendaria o uso desse formato de roteiro, porque fica muito mais difícil de ler e, sobretudo, para a produção se organizar. Para videoaulas e outros formatos não ficcionais, a escolha, como dito acima, é uma questão de gosto.
A vantagem desse formato é que podemos visualizar melhor a simultaneidade entre áudio e vídeo. Por exemplo, uma fala que deve ser acompanhada de um letreiro. No roteiro jornalístico, seria assim:
Como vocês podem reparar, nesse formato nós podemos ler o que acontece visualmente na coluna esquerda e, para saber exatamente o que tem de áudio naquele mesmo momento, basta lermos a coluna da direita naquela mesma altura. Podemos abrir os espaços entre os parágrafos e deixar bem claro quando acontece cada coisa, em cada uma das colunas.
No roteiro cinematográfico isso é menos preciso. Caso optemos por usar o formato cinematográfico, quando quisermos ter precisão será necessário fazer como eu exemplifiquei acima: descrever que tal efeito acontece quando a locução disser determinada palavra. Assim, temos que escrever a locução, depois repetir o trecho na rubrica, a fim de dizer o que acontece quando ele é dito. Por isso, ainda que seja sempre uma questão pessoal, quando o vídeo tiver muito efeito gráfico, eu recomendo o uso do formato de roteiro jornalístico, com as colunas de áudio e vídeo. Aliás, com ele, assim como ocorre com o formato cinematográfico, dá pra ir fazendo adaptações, conforme surgem necessidades ou dificuldades durante a produção.
Prof. Dr. Candeias
© Candeias
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