Evite os erros mais frequentes na produção de videoaulas
Sempre
tive certa resistência às listas de erros mais frequentes, porque
ensinam pelo caminho contrário e passam a impressão de que o autor do
texto (no caso, eu) sente-se superior e coloca-se como alguém que não
erra. Não é o caso, fique bem entendido. No entanto, há algumas
características frequentemente presentes em vídeos de cursos de ensino a
distância ou híbridos, de treinamento e até em tutoriais disponíveis na
internet que podem ser destacadas como desaconselháveis. A intenção
aqui é compreender quais são os efeitos de algumas dessas escolhas e
apontar caminhos para melhorá-los.
Problemas técnicos de imagem
Mesmo
que a organização responsável pela produção opte por fazer vídeos
simples, a imagem precisa ter boa qualidade. É preciso iluminar bem o(a)
apresentador(a) ou o (a) docente que conduz o curso diante da câmera.
Além da comunicação ser mais eficiente quando enxergamos bem os olhos e a
boca de quem fala, uma imagem pouco nítida ou instável fica muito
cansativa para quem assiste, podendo até causar dor de cabeça. Para
garantir uma imagem estável, é importante ter um tripé – ou algum apoio
alternativo para a câmera, no caso de haver poucos recursos para
investimento.
Além
da pessoa que ministra o curso, é importante registrar com uma boa
imagem os eventuais elementos que sejam importantes para a aula, como um
quadro (ou lousa), por exemplo. Se for possível substituir o uso do
quadro por uma apresentação de slides, o resultado tende a ser melhor.
Porém, se a intenção for ter o (a) docente desenhando ou mostrando com
as mãos algo que está no quadro, deve-se seguir esse caminho,
lembrando-se apenas de tomar todos os cuidados para que essas imagens
também fiquem boas.
Problemas técnicos de som
Da
mesma maneira, se o áudio tiver muitos ruídos, como problemas no
microfone ou interferências do som ambiente, a videoaula perde sua
eficácia. Quando é possível gravar externa (fora de estúdio), podemos
ter um bom ganho de resultado, sobretudo se a gravação for em um lugar
que ajude a compreender os temas do curso. Uma aula de biologia, em um
ambiente que tenha as espécies que serão estudadas, por exemplo, fica
mais ilustrativa e interessante. Nesse caso, de gravação externa, é bom
ter equipamento profissional ou escolher lugares bem silenciosos. No
entanto, se não for possível gravar com equipamento profissional ou em
um ambiente silencioso, é melhor optar por um estúdio. Afinal, no
ambiente de estúdio o barulho e a iluminação estão sob nosso controle,
porque não há transeuntes, nem carros etc. Isso é mais importante do que
ter um ambiente interessante. Mesmo com imagens que despertem
curiosidade, fica muito cansativo assistir uma aula (ou um vídeo
qualquer) que passe informações de um jeito que não seja bem audível.
Duração muito longa
A
duração de uma videoaula e até mesmo de outros tipos de vídeo tem a ver
com o conteúdo, com a dinâmica do vídeo e com o meio pelo qual as
pessoas vão assisti-la. Pelo smartphone não é comum que as pessoas assistam vídeos muito longos. Pelo computador já é possível pensar num tempo um pouco maior.
Na
minha opinião, o ideal é dividir o conteúdo em subtemas e oferecer
vídeos mais curtos. Para além de ficar menos cansativo, permite que as
pessoas encontrem os temas com mais facilidade, para ver ou rever
determinado assunto. É claro que muitos vídeos, curtos demais, podem
tornar tediosa a tarefa de ficar acionando um vídeo atrás do outro. Tudo
é uma questão de bom senso, para encontrar a medida. Experimentar é
sempre algo recomendável também, que ajuda a chegar a uma decisão.
Afinal, um vídeo pode ser cansativo ou não, independentemente da
duração. O que gera a sensação de desinteresse é o “tempo psicológico”,
não o numérico. Podemos ver um filme de três horas e não perceber o
tempo passar. Assim como podemos ver uma propaganda de trinta segundos e
achá-la “interminável”.
Sendo
assim, o ideal é analisar essas variações e editar os vídeos com a
duração que supomos ser a melhor, fazendo um teste. Se for possível, o
melhor é pedir para que algum(as) estudantes assistam e deem um retorno
sobre o que acham.
Lembre-se
que o problema pode não estar na duração total, mas em alguns trechos
que poderiam ser mais diretos ou que até poderiam ser suprimidos. Assim
como nos aspectos mencionados acima, o que vale para tomar essas
decisões são: sua sensibilidade e conhecimento a partir das experiências
anteriores, a revisão depois de editar a primeira videoaula do projeto
(não edite tudo, para depois analisar se o formato é o mais adequado) e,
por fim, um teste feito por estudantes ou pessoas próximas que possam
contribuir nisso.
Duração muito curta
Caso
o curso seja longo, uma duração muito curta pode levar ao problema
inverso, mencionado rapidamente acima: exigir que a pessoa fique abrindo
vídeo por vídeo, quando ela (e a maioria) estaria disposta a assistir
trechos mais longos.
Outro
problema, ainda mais grave, é falhar na exposição das ideias. Por medo
de tornar o vídeo cansativo, há instituições que acabam criando aulas
superficiais. O conteúdo é apresentado, mas não é explicado. Nesse caso,
perde-se a eficiência. A não ser que a finalidade seja atiçar a
curiosidade para que a pessoa vá atrás de mais informações por uma outra
via. Nesse caso, é bom que seja bem objetivo e deixe lacunas que
despertem o interesse por aprofundar no que foi apresentado.
Gravação apenas com uma câmera parada
Evite
gravar apenas com uma câmera parada, como se fosse uma transmissão ao
vivo de uma aula. Na falta de recursos, algumas faculdades e
universidades (até mesmo bem grandes) acabam, às vezes, utilizando esse
formato. Não é que seja completamente inútil. Se a pessoa está mesmo
disposta a aprender, o material vai servir para ela. No entanto, é um
desperdício. Não custa muito gravar pelo menos com dois enquadramentos
diferentes e utilizar cortes na edição.
Se
tiver só uma câmera, pense antes nos cortes e grave apenas no
enquadramento que vai usar. Caso tenha receio, grave a aula duas vezes:
uma com um enquadramento mais aberto, outra com o enquadramento fechado.
Depois, utilize um programa de edição para cortar de um enquadramento
para outro. Isso já melhora um pouco da dinâmica do vídeo.
Se
tiver apontamentos em um quadro, grave também detalhe do quadro, para
mostrar de perto quando o(a) professor(a) ilustra sua explicação.
Na melhor das hipótese, grave a aula com duas câmeras ao mesmo tempo. Fica mais fácil de fazer os cortes na ilha de edição.
Falta de um roteiro
Você já deve saber que o roteiro é muito importante para uma videoaula.
Se não for possível ter um roteirista que conheça algo de pedagogia e
um pouco mais sobre vídeo, as próprias pessoas responsáveis pelo curso e
sua gravação poderão fazer um rascunho simples, para visualizar antes
como vai ficar o vídeo. Se vai entrar algum letreiro ou gráfico, qual
vai ser a duração, o que pode ser cortado e quais enquadramentos serão
utilizados em quais momentos. Esse é o mínimo.
Pensamento apenas pelo viés do audiovisual
Em
produções com alto investimento acentua-se um risco que não deixa de
rondar também os projetos de orçamento mais baixo: a predominância da
visão de produção audiovisual sobre a pedagógica. O que significa isso?
Significa que às vezes existe um empenho muito grande em fazer um
excelente produto audiovisual e, com isso, perde-se o objetivo didático
do vídeo.
Já
assisti, por exemplo, um vídeo feito com muito carinho por um
professor, para falar sobre uma região do Brasil que ele havia visitado.
O interessante é que ele não tinha nenhuma experiência profissional com
vídeo. Porém, com a intenção de criar um vídeo que se parecia com uma
reportagem televisiva, deixou as informações importantes em segundo
plano. Suponho que as alunas e os alunos devem ter gostado de ver seu
professor num ambiente diferente, narrando aquelas imagens, com
cachoeiras etc. No entanto, qualquer atividade que fosse aplicada a
seguir mostraria que as informações não foram sedimentalizadas. O vídeo
entretinha, mas não ensinava. E, apesar disso, o professor considerou
que, com o vídeo (que deu muito trabalho e não ficou ruim), a aula sobre
aquele tópico estava dada.
Prof. Dr. Candeias
© Candeias
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