Educação/Ensino a distância não é uma atividade solitária

Uma das preocupações mais comuns quando se fala em EaD (educação a distância ou ensino a distância) é de que alunas e alunos do curso se sintam isolados(as). Algumas pessoas trabalham bem sozinhas, outras precisam mais de interação e trabalham melhor quando se vêem dentro de um grupo, mesmo que algumas atividades sejam realizadas individualmente. No entanto, essa impressão a respeito dos cursos a distância não faz completo sentido. Um bom curso que se utiliza de educação a distância favorece a comunicação, além de oferecer outras vantagens, conforme veremos.

O contato presencial, olho no olho, tem um poder inigualável, não há dúvida. Porém, é preciso reconhecer que está cada vez mais difícil lidar com os problemas de deslocamento nas grandes cidades, de estar sempre no mesmo horário na sala de aula e ainda fazer as tarefas de casa, em meio aos muitos compromissos da vida moderna. Muitas dessas dificuldades/exigências relacionadas a um curso presencial são inexistentes ou reduzidas no ensino a distância. Tendo acesso a um curso via computador ou dispositivos móveis, conseguimos eliminar o tempo e as despesas do deslocamento, administrar os horários conforme o que for mais viável para nós e, ao contrário do que se supõe, estabelecer uma profunda interlocução com colegas, tutores(as), professores(as).

O fato é que esse tipo de curso pode (e deve!) aproveitar os recursos que as novas tecnologias nos oferecem. Vivemos numa época em que se fala muito justamente de interatividade. Como pensar que as tecnologias trazem apenas isolamento? Para pegar o exemplo de um recurso conhecido, comumente disponível em muitas plataformas, pensemos no fórum de discussão. Nele, qualquer participante do curso pode postar uma questão, que poderá ser comentada, respondida, discutida por moderadores(as) e por todas as outras pessoas matriculadas no curso. Se, por um lado, não podemos discutir na hora, olho no olho, como em uma sala de aula, por outro, podemos pensar calmamente sobre a questão e postar um comentário apenas quando tivermos disponibilidade para isso, assim como podemos rever a discussão a qualquer momento. Perde-se de um lado, ganha-se de outro. É possível, inclusive, promover discussões por meio de vídeos de participantes, comentando sobre o tópico e sobre os outros comentários. Há estudos[1], por sinal, que indicam que o vídeo aumenta o engajamento e diminui ainda mais uma eventual sensação de isolamento.

Para além de estruturar o curso para que essas discussões aconteçam, é possível criar muitas outras atividades que estimulam/exigem interação. Há cursos, por exemplo, que propõem etapas a serem realizadas por grupos, que discutirão internamente os problemas propostos (podendo combinar entre si qual a melhor maneira de se comunicarem) e apresentarão, a cada nova etapa, uma solução elaborada em conjunto. Esse formato favorece a troca, o contato permanente. Eu já participei de um curso estruturado dessa maneira, sendo colocado em um grupo que tinha um holandês, uma suíça, um sul-africano e um uruguaio. A troca de experiências e visões que isso gerou talvez desse para escrever um livro. Até hoje, cerca de três anos passados, ainda nos comunicamos e carregamos a promessa de marcar um encontro na primeira oportunidade que algum de nós tiver de visitar o país de outro. Para além disso, havia uma nota específica do curso que levava em consideração o grau de interatividade de cada um com os outros grupos e participantes. Não me lembro de ter frequentado ou ouvido falar de um curso presencial com uma interação tão ampla. E olha que eu já passei por muitas instituições e departamentos diferentes.

Espero que esteja evidente que não pretendo negar o inestimável valor de atividades presenciais, que podem ser imprescindíveis em diversas situações. O que pretendo é apenas relativizar a ideia de isolamento que algumas pessoas associam ao aprendizado a distância. Os contatos pessoais sempre me trouxeram (e continuarão me trazendo) muito crescimento e prazer. Uma conversa olho no olho é incomparável às experiências mediadas pela tecnologia. No entanto, nem sempre é possível estar pessoalmente diante de pessoas que são importantes para nós. Sendo assim, podemos aproveitar o ensino a distância para fazer cursos que não conseguiríamos frequentar pessoalmente e, mais do que isso, podemos usufruir de interações que seriam impossíveis em um curso presencial. Como reunir o grupo do curso que mencionei acima, estando cada um em um país diferente? Ou seja: se o mundo mudou as relações, aproveitemos o que as mudanças trazem de positivo.

[1] Clark, Strudler & Grove. Apud: James-Roberts, C., 2018
Referência:

Jones-Roberts, C. 2018. Using video discussion boards to increase student engagement. In Chen, B., deNoyelles, A., & Thompson, K. (Eds.), Teaching Online Pedagogical Repository. Orlando, FL: University of Central Florida Center for Distributed Learning. Retrieved March 26, 2019 from https://topr.online.ucf.edu/using-video-discussion-boards-to-increase-student-engagement/.

Prof. Dr. Candeias

© Candeias

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