Como criar um curso de ensino/educação a distância (EaD) – Plano de ensino

Em sua essência, um curso de ensino a distância não difere nada de um curso presencial. Afinal, o que mais importa na criação e na realização de um curso, independentemente de formato, duração ou qualquer outra variante, é alcançar os objetivos a que nos propomos com ele. Antes de pensar nos meios que vamos utilizar, temos que pensar nos resultados que pretendemos obter com o curso.

Ao final do curso, desejamos que os participantes tenham aprendido algo ou desenvolvido determinadas habilidades. Esse é o sentido do curso existir. Tendo clareza disso, devemos pensar, então, sobre qual é o melhor caminho para atingir tais objetivos. Sendo assim, seja qual for o programa de ensino que você está desenvolvendo, o primeiro passo é elaborar o tradicional e indispensável plano de ensino (mesmo que você não vá apresentá-lo formalmente).

Há algumas variações no formato de um plano de ensino e você pode adaptá-lo o quanto quiser, mas ele deve conter, ao menos, os objetivos, o conteúdo, a metodologia e avaliação. Em termos formais, seria necessário incluir ainda a bibliografia utilizada, mas não abordaremos esse tópico aqui, porque a apresentação formal do plano de ensino varia entre as instituições. O que nos interessa aqui é a consistência e a efetividade do curso, não a formalização de documentos. 

Objetivos: O que pretendemos que alunas e alunos possam fazer ao final 

Devemos definir os objetivos pela perspectiva do desenvolvimento de alunas e alunos, não pela nossa. Se nós escrevemos, por exemplo, que o objetivo de um curso de educação financeira é “ensinar os conceitos de economia pessoal e sua aplicação em casos particulares”, estamos definindo o trabalho de quem ensina, não de quem aprende.

Seria melhor escrever, por exemplo, que “o objetivo é que alunas e alunos sejam capazes de analisar a situação econômica de uma pessoa ou família, e elaborar um plano de controle orçamentário e metas de investimentos, bem como um planejamento de ações concretas a serem tomadas para alcançar o equilíbrio financeiro planejado.”

É comum afirmarem que devemos usar um verbo, porque isso nos ajuda a pensar em ação. Nesse caso, poderíamos reformular para “levar as alunas e os alunos a desenvolver as capacidades de: analisar a situação econômica de uma pessoa ou família, elaborar um plano de controle orçamentário e metas de investimentos, bem como planejar ações concretas a serem tomadas para alcançar o equilíbrio financeiro planejado.” 

Conteúdo: matéria direcionada para os objetivos 

Num primeiro olhar, o conteúdo do curso é basicamente a matéria a ser ensinada ou trabalhada durante o curso. O recorte, o ponto de vista sobre a matéria, deve ser direcionado para os objetivos. Se o curso pretende que a pessoa seja capaz de compreender, por exemplo, “as bases sociais da literatura brasileira do século XIX”, é importante que a matéria inclua algum conteúdo sócio-histórico sobre o Brasil e não apenas as obras dos autores estudados e teorias sobre literatura. 

Metodologia: escolhendo os melhores meios para alcançar os objetivos 

A metodologia é o conjunto de procedimentos que utilizaremos para trabalhar o conteúdo, visando alcançar os objetivos. Você deve escolher os meios que desenvolvam as capacidades necessárias. Por exemplo, em um curso de administração de nível gerencial, se pretendemos que alunas e alunos sejam capazes de tomar decisões em grupo, diante de determinadas situações, uma metodologia que se utilizasse apenas de leituras e provas seria, no mínimo, incompleta. Nesse caso, poderia haver o apoio de uma bibliografia, o que é sempre importante, porém o que mais ajudaria na realização dos objetivos seria a utilização de atividades em grupo, de preferência com espaço para discussões acerca de problemas e situações reais.

É na escolha da metodologia que o plano de ensino apresenta as diferenças principais entre os cursos presenciais, híbridos e de ensino a distância. Uma atividade em grupo em um curso presencial poderia ser, por exemplo, a formação de grupos de discussão, voltados para resolver uma situação-problema, utilizando-se de reflexões presentes em uma bibliografia previamente estudada. Em um curso a distância, isso depende dos recursos do sistema utilizado, mas sempre é possível criar equivalências para o ensino presencial. Atividades em grupo e fóruns de discussão ajudariam a desenvolver as capacidades necessárias no exemplo acima. 

Avaliação: verificação dos objetivos 

A avaliação é o modo como analisamos se os objetivos foram alcançados. Ou seja, se alunas e alunos são capazes de fazer aquilo que pretendíamos que fizessem quando chegassem ao final do curso. Podemos examinar isso por meio de provas, seminários, além de diversos outros trabalhos escritos ou práticos, ou mesmo durante o curso, fazendo uma avaliação contínua.

É importante analisar se os meios de avaliação são direcionados especialmente para aquelas capacidades presentes nos objetivos. Uma prova individual escrita, por exemplo, não nos mostra nada sobre a capacidade de trabalhar em equipe. (Dependendo das questões, poderia mostrar como a pessoa vê o trabalho em equipe, porém, apenas em termos teóricos). Para avaliar essas capacidades, as atividades em grupo servem melhor como referência do desenvolvimento da aluna ou do aluno. A avaliação também nos ajuda na elaboração do curso, porque ela define concretamente aquilo que deverá ser realizado por alunas e alunos. Sabendo quais tarefas deverão ser cumpridas pelos(as) participantes, temos um guia permanente para nos auxiliar na condução de cada etapa do curso.

Devemos considerar as provas ou outras atividades avaliativas como uma avaliação não apenas para alunas e alunos, mas também para o curso. Muitas notas baixas são sinal de que algo não funcionou. Os motivos podem ser diversos: podemos ter superestimado as capacidades de alunas e alunos, a metodologia pode não ter sido a mais adequada para chegarmos aos nosso objetivos, o processo seletivo pode não ter sido adequado e assim por diante. Se possível, devemos conversar com algumas pessoas que frequentaram o curso, para fazer perguntas e colher dados mais concretos sobre o que funcionou melhor e o que pode ser aprimorado.

A cada vez que o curso é ministrado, conseguimos perceber pontos que podem ser retrabalhados. Se encontramos lacunas no desenvolvimento de alunas e alunos, já sabemos que devemos reforçar esses aspectos na próxima vez. 

Engajamento no curso 

Além dos itens do plano de ensino, é sempre importante pensar em como engajar as alunas e os alunos o máximo possível no seu curso. Isso passa por tentar compreender seus anseios, a melhor maneira de se comunicar com eles e assim por diante. Esse é um aspecto valorizado por diversas instituições e docentes, aparecendo, por exemplo, nas recomendações da University of Washington.

Outro meio importante de trazer engajamento (e aumentar a eficiência do ensino) é expor claramente quais são os objetivos do curso, para que todos os participantes adotem tais objetivos e compreendam aonde poderão/deverão chegar, mantendo a atenção naquilo que mais interessa a cada etapa do programa. Essa é uma orientação recorrente entre pedagogos, que pode ser vista, por exemplo, também nas recomendações da University of Washington e nas diretrizes do laboratório de ensino e aprendizagem do MIT - Massachusetts Institute of Technology.

Tendo definido tudo o que está acima, crie o plano de aula de todos os dias de curso, mantendo a coerência com o plano de ensino. 

Compreender o contexto 

É evidente que também é fundamental analisar todo o contexto em que o curso se encontra. É parte do programa de uma faculdade? Qual o perfil da faculdade? Quais os objetivos de quem a frequenta? Qual é o perfil do programa no qual o curso se insere? Trata-se de um curso técnico, do treinamento de funcionários ou de uma faculdade? O objetivo do programa é formar pessoas capazes de ter uma autonomia de pensamento, de analisar o contexto e relacionar com suas atividades? Nesse caso, por exemplo, não bastaria ensinar o “ferramental” de sua área de atuação. Seria necessário trabalhar reflexão, discussão, análise, e assim por diante.

Nas fontes abaixo, linkadas já em alguns pontos do texto, você encontra mais detalhes sobre o tema:

Em português: 
http://www2.unirio.br/unirio/cchs/eb/ELABORAODOPLANODEENSINOEDOPLANODEAULA.pdf 

Em inglês: 
http://www.washington.edu/teaching/teaching-resources/preparing-to-teach/designing-your-course-and-syllabus/#Syllabus

http://depts.washington.edu/learning/coursegoals.html 

https://www.abdn.ac.uk/admin/aimsobs.shtml 

Prof. Dr. Candeias 

© Candeias 

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